por Andressa de Rosso,
“Em 1986, com a criação da Estação Ecológica da Juréia Itatins, algo em torno de quatrocentas famílias foram expulsas das terras que habitavam a mais de trezentos e cinquenta anos, e forçadas a reinventar suas vidas nas periferias das cidades. Com isso, o envolvimento dos jovens dessas famílias com as drogas e o crime acabou se tornando algo muito comum nesse período.
Quando me explicaram isso eu lembrei da primeira vez que ouvi a palavra “caiçara”. Eu perguntei o que queria dizer e me responderam “ah, é tipo um trombadinha invocado que mora na praia, fica de olho neles!”. E agora para mim tudo se encaixou!
Depois de anos (mas antes tarde do que nunca!), aí vai um novo e correto significado:
Caiçara: “é uma palavra de origem tupi que refere-se aos habitantes das zonas litorâneas. Inicialmente designava apenas a indivíduos que viviam da pesca de subsistência. Mais tarde, o termo caiçara veio designar diversos itens de cunho cultural no litoral brasileiro, mais precisamente no sul e sudeste. (…) As comunidades caiçaras nasceram a partir (…) da miscigenação de brancos (…) grupos indígenas[Tupinanbás] (…) e de negros” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Caiçara)
Em 1993, sete anos depois dessas comunidades terem sido expulsas, as famílias vítimas da desapropriação começaram a se organizar e fundaram a Associação dos Jovens da Juréia. Inicialmente tinham como objetivo juntar e engajar os jovens em pró da luta pelos seus direitos de permanecer na Juréia, mas com o tempo a Associação foi se transformando e expandindo suas atividades, como a disseminação da cultura caiçara através do Fandango (já que a associação começou com um grupo de fandangueiros!) que é uma música/dança típica caiçara.
Achei muito incrível a maneira como essas atividades foram se remontando, porque começaram com essa luta política e se transformaram em maneiras da comunidade se ajudar na reconstrução da nova vida que todas essas famílias tiveram que passar. O Fandango que a principio era uma atividade de diversão e mantimento das tradições, acabou se tornando também uma maneira de disciplinar, dar foco aos jovens e dessa forma, mante-los longe das drogas e do crime.
E outra dessas atividade é também a geração de renda para a comunidade através do artesanato. Desde que saíram da Juréia, essas famílias, que estavam acostumados a viver de caça, pesca e dos próprios conhecimentos medicinais, não sabiam como criar suas famílias no contexto das cidades, e claro não sabiam como iriam ganhar dinheiro. Assim começaram a se especializar e vender artesanato, tal qual não consideram parte de sua cultura, mas sim um meio de sobrevivência.
Hoje, depois de uma campanha bem sucedida para arrecadação de fundos em um site de financiamento coletivo (ou vaquinha online), a sede da Associação dos Jovens da Juréia está em construção, e abriga espaços como uma cozinha caiçara, o salão de Fandango e a marcenaria para artesanatos. Tudo isso visando dar apoio e incentivando jovens da comunidade a cuidarem de sua cultura e serem pessoas melhores sempre.
Parabéns pela iniciativa e as incansáveis lutas! Amei ver tudo isso bem de pertinho! “
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